Os ratos são classificados pela sistemática – ciência que estuda a relação entre os organismos conforme sua classificação biológica – como roedores, isto é, animais da ordem Rodentia e, ainda, da família Muridae. Essa família, um setor da classe dos mamíferos, abrange os ratos, camundongos e ratazanas. São animais que possuem uma característica própria desse grupo: dentes incisivos. Além disso, podem ser caracterizados de acordo com alguns aspectos externos, como a coloração e o tipo da pelagem.
Esses dentes, situados na porção anterior da boca, crescem continuamente. Têm formato de meio círculo, não possuem raiz fechada e a porção posterior do dente tem a dentina exposta. Então, o ato de roer permite que os dentes sejam afiados e não cresçam em excesso. Isto significa que, se esses animais não utilizarem os dentes (não roerem), os incisivos não param de crescer e podem voltar à raiz, ou seja, fechar o semi-círculo, prejudicando fatalmente o animal.
Assim, esses animais estão sempre roendo. Não importa se é alimento ou não, eles não podem ficar sem utilizar seus dentes. Devido a esse fator importante, os roedores passam a maior parte do tempo procurando substâncias para afiar os dentes. Além disso, podem viver e/ou andar nos mais diversos lugares, como galerias ou fios e cabos elétricos, o que causa grande prejuízo ao homem.
No Brasil, a ordem dos roedores apresenta cerca de 74 gêneros e 236 espécies, ou seja, somente no Brasil, ocorrem mais de 230 espécies diferentes desses animais. Como sempre estão em busca de abrigo e alimento, muitas vezes acabam trazendo desconforto e perturbação em várias regiões, principalmente as grandes cidades. Porém, é importante saber que a grande maioria dessas espécies não causa perturbação alguma ao homem, pois são espécies silvestres que vivem restritamente nos locais em que estão adaptadas, como florestas, cerrado, caatinga.
Habitat dos Ratos
Os ratos possuem hábito noturno. Isto significa que eles saem em busca de alimento somente durante a noite, uma vez que é o período mais fácil de obter alimento e menos perigoso também. Mais ainda, utilizam principalmente o tato, a audição e o olfato para a obtenção do alimento, uma vez que esses sentidos são mais aguçados do que a visão. Como eles têm várias habilidades físicas – nadar, subir em locais altos, saltar ou mesmo equilibrar-se em fios e cabos – eles conseguem obter alimento mesmo que esse esteja em locais de difícil acesso. Eles podem bloquear a respiração por até três minutos, permitindo a natação dentro de canos e esgotos.
Geralmente, os ratos encontram no nosso lixo doméstico seu alimento. Assim, podemos classificá-lo como um organismo omnívoro, ou seja, que se alimenta de praticamente tudo, ou pelo menos, tudo aquilo que serve de alimento ao homem.
Somente três espécies são mais comumente reconhecidas como animais sinantrópicos, ou seja, animais que se adaptaram a viver junto ao homem, mesmo sem a vontade deste:
Mus musculus:
É conhecido também como camundongo. É um roedor pequeno de cauda aproximadamente igual ao comprimento do corpo. Sua pelagem é uniformemente cinzento-amarelada, sem limite definido entre as superfícies dorsal (costas) e ventral. Suas patas são estreitas, geralmente com a superfície superior mais amarelada. As fêmeas têm cinco pares de mamas.
Rattus rattus:
Roedor também chamado de rato preto ou rato do telhado, possui tamanho médio a grande, de cauda maior que o corpo, orelhas longas e quase nuas e patas posteriores sem membrana interdigital (entre os dedos). A coloração da pelagem é mais variada, podendo ser desde mais claras no ventre, até acinzentadas; no dorso pode ser castanho-acinzentada ou então cinzento-avermelhada. As fêmeas têm de cinco a seis pares de mamas, mais freqüentemente cinco, sendo um peitoral. Eles têm hábito terrestre, porém com grande facilidade para escalar em paredes e forros de casas. Vive geralmente em locais secos, como armazéns de grãos.
Rattus norvegicus:
É conhecido popularmente como ratazana. É o maior, mas têm a cauda menor do que o comprimento do corpo, as orelhas mais curtas e com alguns pêlos, e as patas traseiras com membrana entre os dedos. Têm hábito semi-aquático e vivem à beira de águas doces, salobras (mistura de água de rio e água do mar) ou salgadas. Esses animais nadam e mergulham com habilidade e também cava galerias extensas. Mais freqüente no litoral, entretanto é encontrada também em campos e pode ser encontrado vivendo até em instalações de animais domésticos.
Distribuição Geográfica:
Essas três espécies citadas têm sua origem no velho mundo (Europa). Porém, foram introduzidas pela colonização européia e adaptaram-se muito bem ao país. Atualmente, ocupam praticamente todo o território brasileiro, sendo considerados, por isso, animais cosmopolitas.
Ciclo de Vida dos Ratos
Esses roedores possuem um ciclo de vida de 9 (nove) a 12 (doze) meses e com um período de gestação de aproximadamente 22 (vinte e dois) dias. A maturidade é atingida, por esses animais, após, no máximo, 3 (três) meses, isto significa que, apenas sessenta dias do dia do nascimento eles já estão aptos a se reproduzirem. As fêmeas dos camundongos têm em média seis ninhadas no ano, com 3 a 8 filhotes por ninhadas. Já as fêmeas dos ratos (preto e ratazana) têm até doze ninhadas por ano, com 7 a 12 filhotes por ninhada.
Problemas na Sociedade X Doenças
Conheça as doenças transmitidas pelos ratos:
Leptospirose
É uma zoonose causada por uma bactéria do tipo Leptospira que afeta seres humanos e animais podendo ser fatal. Durante chuvas e inundações, essa bactéria, presente na urina do rato, se espalha nas águas, podendo invadir casas e contaminar, através da pele, os que entram em contato com áreas infectadas. A longa permanência de pessoas na água favorece a penetração da bactéria pela pele limpa, sem ferimentos, e ela pode atingir rins, fígado e musculatura.
Os locais, onde o contágio acontece, normalmente são beiras de córregos, galerias de esgoto e terrenos baldios. Em seu quadro mais grave, também é chamada de Mal de Weil ou Síndrome de Weil. Apesar de classificada somente em 1907, graças a um exame post mortem realizado em uma amostra de rim infectado, a doença foi identificada em 1886, pelo patologista alemão Adolf.
Os ratos são considerados os principais transmissores da doença. Os roedores domésticos mais comuns, que levam a leptospirose ao homem, são o rato de telhado (ou de forro, o Rattus rattus), a ratazana (de praia ou de esgoto) e o camundongo (o Mus musculus).
A leptospirose, nos seres humanos causa ampla gama de sintomas, mas alguns casos podem ser assintomáticas, isto é, não apresentam sintoma. Podem ser sintomas da doença: febre alta, fortes cefaléias (dores de cabeça), calafrios, dores musculares, vômitos, icterícia (cor amarelada da pele), olhos congestionados, dor abdominal, diarréia e coceira. Um sintoma capaz de diferenciar-la de outras doenças é a insuportável dor na batata da perna, muitas vezes, o doente não consegue ficar de pé. Pode provocar alterações no volume e na cor da urina tornando-a mais escura. Complicações incluem falência renal, meningite, falência hepática e deficiência respiratória, caracterizando a forma grave da doença citada a cima. Pode levar a morte raramente. Normalmente, quando curada, a doença não deixa sequelas.
Muitas vezes, essa patologia é confundida com doenças como gripe e, principalmente, hepatite. O diagnóstico da doença é difícil, devido a variedade de sintomas, comuns em outros quadros clínicos. O diagnóstico final é confirmado por meio de testes sorológicos como o método de ELISA (Ensaio Detector de Anticorpos de Enzimas) e o PCR (Reação em Cadeia da Polimerase = Polymerase Chain Reaction).
Os humanos também infectam-se, freqüentemente, por água, alimentos ou solo contaminados pela urina de animais infectados (bovinos, suínos, eqüinos, cães, roedores e animais selvagens) que são ingeridos ou entram em contato com membranas mucosas ou com a pele. A infecção é mais comum em áreas rurais, podendo ocorrer, também, em áreas urbanas, quando alguns dos animais mencionados entram em contato com alimentos armazenados em depósitos não devidamente isolados. Há casos de pessoas que contraíram a doença e morreram por beberem liquídos (e só foi descoberto após a sua morte) de latas que se encontravam contaminadas com a bactéria causadora da infecção, devido à urina dos ratos que se encontram nos armazéns de fábricas e supermercados. Não há registros de transmissão da doença de uma pessoa para outra.
Prevenção:
Baseia-se no controle dos roedores e em medidas para melhorar o meio ambiente como habitação protegida das águas das chuvas, saneamento básico e cuidados especiais com o lixo, principal alimento de ratos. Tratar esgotos e galerias por onde passam as águas das chuvas, evitando inundações e impedindo a urina do rato alcançar o homem.
- Quando entrar em contato com regiões inundadas ou com lama, usar luvas e botas de borracha;
- Evitar expor ferimentos às águas infectadas de inundações em áreas suscetíveis á bactéria;
- Ficar o menor tempo possível imerso nessas águas e impedir que as crianças nadem ou mergulhem nelas;
- Desinfetar com cloro (hipoclorito de sódio) os objetos de casa que entraram em contato com a água ou com a lama;
- Médicos recomendam a lavagem de latas e outras embalagens com água e sabão.
No Brasil, não há vacina contra a leptospirose para seres humanos. Existem vacinas somente para uso em animais, como cães, bovinos e suínos. Esses animais devem ser vacinados todos os anos para ficarem livres do risco de contrair a doença e diminuir o risco de transmiti-la ao homem.
Tratamento:
A leptospirose é tratada com antibióticos, como a doxiciclina ou a penicilina, hidratação e suporte clínico, orientado por um médico, de acordo com os sintomas apresentados. Casos leves podem ser tratados em ambulatório, mas os casos graves precisam ser internados.
Curiosidades quanto à Leptospirose.
Solução desinfetante de alimentos e objetos: Cloro mata a bactéria. Se não for possível armazenar os alimentos protegidos da água, o correto a se fazer é eliminá-los. Frutas em geral, carne, leite, verduras, legumes, arroz, feijão, café, manteiga, etc devem ser inutilizados. Alimentos enlatados podem ser lavados mantendo-os em contato com a solução por trinta minutos, desde que não tenha havido contato da comida com a água. Para 1L, 20L, 200L e 1000L usa-se, respectivamente, duas gotas, uma colher de chá, uma colher de sopa e dois copinhos de café de hipoclorito de sódio.
Por quanto tempo a leptospira vive no ambiente?
As leptospiras podem sobreviver até semanas ou meses, dependendo das condições do ambiente (temperatura, umidade, lama ou águas de superfície). Porém, são bactérias sensíveis aos desinfetantes comuns e a determinadas condições ambientais. Elas são rapidamente mortas por desinfetantes, como o hipoclorito de sódio, presente na água sanitária, e quando são expostas à luz solar direta.
Qual é o risco de contaminação se houver contato com águas suspeitas?
Nesta situação, a contaminação da pessoa dependerá de alguns fatores, como a concentração de leptospiras na água, o tempo que a pessoa ficou em contato com a água e a possibilidade ou não da penetração da bactéria no corpo humano, entre outros fatores. Deve-se ficar atento por alguns dias e, se a pessoa adoecer, deve-se procurar um médico o mais breve possível, não esquecendo-se de relatar a exposição aos fatores de riscos a leptospirose.
Qualquer pessoa pode contrair a doença?
Sim, qualquer pessoa pode contraí-la. Porém, tem-se observado maior freqüência de casos em indivíduos do sexo masculino, na faixa de 20 a 35 anos, provavelmente pela maior exposição a situações de risco em casa ou no trabalho.
Para obter maiores informações sobre a leptospirose, procure a Secretaria Estadual de Saúde, o Centro de Controle de Zoonoses ou a Secretaria Municipal de Saúde de sua cidade.
Hantaviroses
As hantaviroses são doenças provocadas pelo hantavírus, agentes etiológicos pentencentes a família Buyanviridae, encontrado em ratos silvestres que vivem em áreas rurais, onde foram registrados os casos da doença. Podem se apresentar sobre as formas de Febre Hemorrágica com Síndrone Renal (HFRS) e Síndrone Pulmonar por Hantavírus (HPS), sendo a segunda a única forma encontrada nas Américas. Não são específicas de nenhum grupo étnico e se comportam de forma estacional coincidindo com a presença e o maior número de roedores portadores do vírus.
Cada espécie de roedores, principais reservatórios dos Hantavírus, parecem ter tropismo por determinado tipo do vírus. No roedores, a infecção pelo Hantavírus, aparentemente, não é letal e pode levá-lo ao estado de reservatório do vírus por toda a vida. Nesses animais, os Hantavírus são isolados principalmente nos pulmões e rins, apesar da presença de anticorpos séricos, sendo eliminados em grande quantidade na saliva, urina e fezes.
Os sintomas são três: febre acima de 38 graus, dores musculares e dificuldade de respirar, desde que o paciente tenha estado na zona rural nos últimos 60 dias.
Essa enfermidade não pode ser transmitida de pessoa a pessoa, ou seja, espirro, tosse, aperto de mão ou qualquer outro contato físico não representam risco de contágio.
A contaminação pelo hantavírus ocorre quando respira-se poeira com restos de fezes, urina ou saliva de ratos contaminados em ambientes fechados. Os moradores de áreas rurais, agricultores, caçadores, pescadores, pessoas que fazem trilhas, acampam ou freqüentam matas possuem maior risco de contrair a doença. Outras formas de transmissão para a espécie humana foram também descritas:
- ingestão de alimentos e água contaminados;
- percutânea, por meio de escoriações cutâneas e mordeduras de roedor;
- contato do vírus com mucosa, por exemplo, a conjuntival;
- acidentalmente, em trabalhadores e visitantes de biotérios e laboratórios.
O período de incubação da doença provocada por Hantavirus varia de 12 a 16 dias com uma variação de 05 a 42 dias. Apesar do risco de morte, a hantavirose tem cura. É importante procurar uma unidade de saúde logo que sentir os primeiros sintomas da doença.
Síndrome Pulmonar por Hantavírus (HPS)
- Febre, mialgias, dor abdominal, vômitos e cefaléia; seguidas de tosse produtiva, dispnéia, taquipnéia, taquicardia, hipertensão, hipoxemia arterial, acidose metabólica e edema pulmonar não cardiogênico. O paciente evolui para insuficiência respiratória aguda e choque circulatório.
- Complicações: insuficiência respiratória aguda e choque circulatório.
- Tratamento: desde o início do quadro respiratório, estão indicados medidas gerais de suporte clínico, inclusive com assistência em unidade de terapia intensiva nos casos mais graves.
Febre Hemorrágica com Síndrome Renal (HFRS)
- Febre, cefaléia, mialgia, dor abdominal, náuseas, vômitos, rubor facial, petéquias e hemorragia conjuntival, seguida de hipotensão, taquicardía, oligúria e hemorragias severas, evoluindo para um quadro de poliúria que antecipa o início da recuperação, na maioria dos casos.
Tratamento:
- isolamento dos pacientes com proteção de barreiras (avental, luvas e máscaras);
- evitar sobrecarga hídrica nos estágios iniciais, manter o aporte de fluidos adequado para repor perda na fase de poliúria, controle da hipotensão com expansores de volume e vasopressores nos casos graves, monitorização do estado hidroeletrolítico e ácido-básico e diálise peritoneal ou hemodiálise no tratamento da insuficiência renal.
Para os dois tipos de Hantaviroses, o diagnóstico faz-se através de Imunofluorescência, Elisa e Soroneutralização. A confirmação se dá através de PCR e Imunohistoquímica de órgãos positivos.
Prevenção:
Não há vacina contra essa patologia. As medidas preventivas são: não deixar casas fechadas por muito tempo, não plantar nada a menos de 30 metros de distância das residências; manter o mato em volta das casas sempre cortado; não deixe madeira, lixo ou folhas acumuladas perto das habitações; não comer frutos caídos ou próximos ao chão; tapar todas as frestas e buracos por onde ratos podem passar; não deixar restos de ração ou comida ao alcance dos ratos; evitar que o lixo fique espalhado; guardar grãos ou qualquer alimento a uma altura mínima de 40 centímetros do chão e nunca tocar em ratos.
Limpeza de ambientes fechados
Antes de entrar no ambiente, abra as portas e deixe arejar por um tempo. Em seguida, abra as janelas e aguarde mais um tempo antes de entrar para fazer a limpeza. Prepare uma mistura de 1 copo de água sanitária com 9 copos de água. Com a ajuda de um rodo, molhe um pano nessa mistura e passe no chão, tomando o cuidado de não levantar poeira. Jamais use vassoura. Mantenha portas janelas abertas até que tudo esteja limpo e seco.
Cuidados necessários ao acampar
Procure um local afastado da mata e exposto ao sol para armar a barraca. Ela deve ter fundo impermeável para que não haja contato direto do corpo com o solo. A água e os alimentos que serão consumidos devem ser guardados em recipientes muito bem fechados. Não use sandálias abertas.
Curiosidades quanto as hantaviroses
Dados estatísticos:
A Febre Hemorrágica com Síndrome Renal (HFRS) tem a distribuição na Europa e Ásia onde na China ocorrem de 40.000 a 100.000 casos por ano. Na Coréia do Sul tem ocorrido uma média de 1.000 casos por ano. Possui uma letalidade variável com média de 5% na Ásia e um pouco maior nas Ilhas Balcãs.A forma respiratória da doença (HPS) com grande letalidade, identificada em junho de 1993 na região sudoeste dos Estados Unidos e, posteriormente, observada em outros 21 estados daquele país levou ao isolamento de outros Hantavírus como o Sin Nombre, Black Creek Canal, Bayou e New York. Desta forma, a Síndrome Pulmonar por Hantavírus passou a ser reconhecida em outros países e possibilitou o isolamento de novas espécies. No Brasil, os 3 primeiros casos clínicos de Síndrome Pulmonar por Hantavírus foram identificados no Estado de São Paulo, no Município de Juquitiba, em 1993. Outros sete casos foram registrados: um no Estado de Mato Grosso na cidade de Castelo dos Sonhos e outros seis no estado de São Paulo, nas cidades de Araraquara e Franca, ambos em 1996; um em Tupi Paulista e um em Nova Guataporanga e dois casos em Guariba, em 1998.
Curiosidades quanto à peste bubônica
Dados históricos:
Na Idade Media, a peste bubônica, popularmente conhecida como peste negra, tinha como profilaxia direta o isolamento dos enfermos, tornando-os inofensivos como portadores do elemento causal, erradicando, assim, a doença. No curso da história humana, essa foi uma das três grandes pandemias já registradas.
QUARENTENA: O pânico foi a primeira reação ao aparecimento da doença. Buscava-se a fuga como salvação, mas nem todos podiam, ou queriam, fugir. À principio, a pestilência era considerada sinal da ira divina, e muitos viam, como únicos remédios, a penitência e a oração. Comunidades negavam-se a admitir pessoas provenientes de regiões onde grassava a peste. Medidas para proteger os sadios e os ajudar a evitar o temido mal tornaram-se imperiosas.
A experiência de isolar os doentes foi eficaz, desenvolvendo-se rapidamente esse princípio como combate à infecção. As autoridades eram notificadas quanto a existência de pacientes, que depois de examinados, eram isolados em suas casas, enquanto durasse a enfermidade.
Os mortos eram retirados das casas pelas janelas e seus corpos removidos em carroças para fora das cidades, o lugar de enterramento também tinha a finalidade de prevenir o alastramento da epidemia. Quando morria um paciente, arejavam-se e fumigavam-se os cômodos e queimavam-se os seus pertences.
Para evitar a entrada da peste na comunidade, usava-se o método de isolar e observar pessoas e objetos sob condições rigorosas e por um período específico, até se confirmar a inexistência da doença. Assim surgiu a quarentena, contribuição fundamental a pratica da Saúde Pública.
A partir do século XIV, quem atendesse um paciente com a peste deveria ser isolado, por quatorze dias, antes de reassumir suas relações sociais com outras pessoas. O mesmo valia para viajantes ou mercadores infectados, ou simplesmente suspeitos de ter a doença. Mais tarde, estenderam o período de isolamento para trinta dias e, posteriormente, para quarenta dias, origem do termo quarentena. As primeiras estações de quarentena foram construídas na Itália, assim, depois de rígida inspeção das embarcações que ali chegavam, todos os passageiros e cargas de navios ficavam detidos por esse período, expostos ao ar e a luz solar.
A razão para tal período residia na crença, generalizada nos séculos XIII e XIV, de ser o quadragésimo dia o de separação entre as formas agudas e crônicas as doenças. Recorria-se, também, à Bíblia para atribuir ao numero quarenta um significado especial, o dilúvio durou quarenta dias, assim como outros episódios bíblicos. Na alquimia, também considerava-se importante o número, pois se acreditava na necessidade de quarenta dias para certas transmutações. Dessa forma, criaram um sistema para combater doenças contagiosas, com estações de observação, hospitais de isolamento e procedimentos de desinfecção, ainda hoje comuns na prática de Saúde Pública.
A BACTERIOLOGIA E A SAÚDE PÚBLICA. Em 1897, no Japão, observou-se o bacilo da peste em pulgas de ratos e sugeriu-se, pela primeira vez, que as pulgas de ratos com peste poderiam não apenas abrigar os organismos mas também passar a infecção ao homem. No mesmo ano, estudiosos convenceram-se de que o rato transmitia a doença ao homem.
Medidas Preventivas
Baseando-se no fato de os ratos necessitarem de abrigo, alimento e água, foram elaboradas algumas medidas que podem ser tomadas no dia-a-dia da sua casa.
Tais medidas preventivas também podem ser chamadas de antirratização, e são atitudes que devem ser tomadas por todos os cidadãos, por serem os ratos animais que causam danos e por poderem transmitir doenças aos seres humanos.
Medidas Preventivas para Controle de Ratos em Geral
1. Todos os dias, antes de anoitecer, limpar os locais onde são realizadas as refeições, lavando os pratos, limpando as
superfícies onde é preparado o alimento, e utensílios em geral;
2. Aos restos de comida dar um destino adequado, preferencialmente, sacos plásticos, e mantidos em local alto até
serem entregues ao serviço de coleta urbana, afinal o lixo é o principal alimento para o rato;
3. Os alimentos destinados a animais domésticos dever ser retirados durante a noite, por apresentarem um grande
atrativo a esses roedores, e podendo assim passar doenças a seu animal.
4. Determinar um lugar comum para as refeições, e colocar os alimentos em recipientes seguramente fechados e a
40cm do solo;
5. Colocar caixas, sacos e fardos sobre apoios com altura de no mínimo 40cm, afastados uns dos outros e das
paredes, para que a inspeção seja possível em todos os lados;
6. Não acumular objetos que não estão mais em uso;
7. Manter cultivos e jardins sempre bem aparados e bem cuidados, sem amontoados de vegetação;
8. Caso não exista coleta regular de lixo orgânico e inorgânico, este pode ser enterrado separadamente, a uma
distância mínima de 30m do domicílio.
Medidas Preventivas ao Camundongo (Mus musculus)
1. Manter armários e depósitos arrumados, sem objetos desnecessários e amontoados.
2. Não deixar encostados em muros e paredes objetos que facilitem o acesso dos roedores.
3. Colocar telas em todo e qualquer vão, buraco, abertura, com mais de 6mm que possa servir de abrigo para o roedor,
e onde ele possa encontrar algum objeto que use para roer, como entradas de condutores de fios elétricos.
Medidas Preventivas ao Rato de Telhado (Rattus rattus)
1. Buracos e vãos entre telhas devem ser vedados com argamassa adequada.
2. Não deixar encostados em muros e paredes objetos que facilitem o acesso dos roedores.
3. Colocar telas em aberturas de aeração, e em todas as aberturas com mais de 6 mm que possam representar uma
entrada no telhado para o roedor.
Medidas Preventivas às Ratazanas (Rattus norvegicus)
1. Não utilizar terrenos baldios, margens de córregos, galerias de esgoto ou outras áreas a céu aberto para o depósito de lixo.
2. Manter ralos e tampas de bueiros firmemente encaixados, e sem brechas para a entrada do roedor.
3. Não permitir qualquer amontoado de lixo, restos de construções, troncos, pedras, tudo que represente um abrigo, ou alimento ao roedor.
Se observar fezes de roedores dentro de casa, ninhos, ou roedores vivos ou mortos, não toque nestes animais, ou em seus dejetos. Primeiro desinfete o local usando uma solução de água sanitária a 10% (uma parte de água sanitária para 9 partes de água) e pulverize todos os locais e objetos contaminados. Deixe agir por pelo menos 30 minutos, e então remova com um pano úmido (com a solução de água sanitária preparada anteriormente) os ninhos, fezes ou roedores mortos. Evite varrer ou usar aspirador de pó nestes locais.
Ambientes que estejam fechados por algum tempo e que apresentem sinais de infestação de roedores devem ser abertos e ventilados por, pelo menos, 30 minutos.
É importante limpar e desinfetar a caixa d’água com uma solução de água sanitária, da seguinte forma:
- Esvazie e lave a caixa d’água, esfregando bem as paredes e o fundo;
- Após acabar de limpar, adicionar 1 litro de água sanitária para cada 1.000 litros de água no reservatório;
- Depois, abra a entrada principal da água e encha a caixa d’água com água limpa; feche o registro após o enchimento
da caixa;
- Após 30 minutos, abra as torneiras por alguns segundos para que essa água misturada com água sanitária entre na
tubulação;
- Aguarde uma hora e trinta minutos para que se faça a desinfecção;
- Abra novamente as torneiras, para drenar toda a água. A água que sai pelas torneiras pode servir para a limpeza de chão e paredes.
- Encha novamente a caixa com água limpa.
Receitas caseiras de iscas para ratos:
Uma parte de gesso em pó e três partes de farinha de trigo. Para tornar a mistura mais atraente adicione raspa de queijo, farinha de peixe, etc. Ao ingerir o gesso ( sulfato cálcico) o rato sente muita sede, procura água, colocar água nas imediações da mistura.
25 g de carbonato de bário, 30 g de farinha de trigo ou milho, e água suficiente para fazer a massa. Faça pequenos bolinhos e coloque nos caminhos por onde passam. Farinha de trigo com cal virgem também funciona bem. Ao comer a mistura, sente sede, bebe água e o gás formado no intestino mata-os.
Banana amassada recheada com cimento.
Curiosidades
- Os ratos são responsáveis pela perda de 30% da produção nacional de grãos e 4% da produção mundial.
- A cada 3 dias, há registro em hospitais e postos médicos de 1 pessoa com lesões por roedura e doenças de ratos.
- A Suíça mantém 0,5 rato per capita, os EUA 2 ratos per capita, enquanto no Brasil, nos grandes centros urbanos,
existem 15 ratos/habitante, sendo a média nacional de 8.
- Se acasalarmos um casal de ratos em Janeiro, em Dezembro teremos 180 mil descendentes e no período de 10 anos
serão 48 trilhões.
Rato - Perguntas e respostas
Conheça as principais perguntas e respostas (FAQ) referente aos Ratos.
FAQ - Perguntas e Respostas sobre os Ratos
- Os ratos vivem em colônias?
Sim. Apesar de existirem espécies com hábitos muito diferentes umas das outras, os ratos vivem em colônias e seu tamanho depende da disponibilidade de alimentos e abrigo.
- Os ratos se acasalam?
Sim. E as fêmeas podem se acasalar com mais de um macho.
- Quantas vezes os ratos se acasalam em vida?
A quantidade de vezes que os ratos se acasalam pode ser contabilizada pelo número de ninhadas por ano, que varia de 4 a 12, dependendo da espécie.
- Existem locais específicos para os ratos se acasalarem?
Os ratos se acasalam na própria colônia onde também constroem seus ninhos.
- Quantos filhotes de ratos são gerados em uma ninhada?
Os “ratos de esgoto” ou “ratazana” (Rattus norvegicus) e de “telhado” (Rattus rattus), os mais comuns, geram de 7 a 12 filhotes por ninhada.
- Os ratos são carnívoros?
Em geral, a escolha da fonte alimentar vai depender da disponibilidade da mesma. Assim, muitos ratos são considerados onívoros, ou seja, em sua dieta podem estar presentes tanto produtos de origem vegetal quanto animal.
- De que se alimentam os filhotes de rato quando nascem?
As fêmeas amamentam seus filhotes recém-nascidos até o 25º ou 28º dia, dependendo da espécie.
- Do que se alimentam os ratos de telhado?
Assim como outros ratos são onívoros, contudo têm maior preferência por legumes, frutas, cereais e insetos.
- Do que se alimentam os ratos de esgoto?
São onívoros e preferem se alimentar de grãos, carnes, ovos e frutas.
- Do que se alimentam os camundongos?
Os camundongos (Mus musculus) têm uma preferência bem peculiar por grãos e cereais.
- É verdade que os ratos de esgoto podem subir pelas tubulações e saírem pelos vasos sanitários? E quando isso pode ocorrer?
Sim. Isso pode ocorrer quando estão procurando por alimento ou abrigo, porém, hoje em dia há dispositivos instalados nos vasos sanitários que, na maioria das construções, impedem o acesso por esta via.
- É verdade que um rato encontrando uma isca ou alimento não vai comê-lo imediatamente?
Sim. Eles apresentam a “neofobia”, isto é, um tipo de medo e desconfiança em relação a objetos e/ou alimentos “novos” que apareçam em seu território. Já em locais que apresentam movimento contínuo de pessoas, objetos ou mercadorias, a neofobia tende a ser menos acentuada ou inexistente.
- As espécies de ratos encontradas em áreas urbanas são diferentes das presentes em áreas rurais?
Devido ao processo crescente de urbanização podemos encontrar as mesmas espécies em ambas as áreas, embora a espécie mais comum de se encontrar em áreas rurais seja o rato de telhado (Rattus rattus). Ele cultiva o hábito de viver usualmente nas superfícies altas das construções como forros, telhados, sótãos e árvores, características mais presentes ainda no ambiente rural.
- Quais os perigos que os ratos causam a lavoura?
Anualmente os ratos inutilizam cerca de 4 a 8% da produção nacional de cereais, grãos, raízes, entre outros. Os perigos estão associados à possível contaminação dos alimentos produzidos na lavoura, pela urina e fezes, quando do ataque direto à lavoura, ou mesmo aos alimentos estocados e transportados de forma incorreta.
- Quais as doenças transmitidas ao homem pelos ratos?
Podem ser transmissores de mais de 200 doenças e dentre as mais importantes estão a leptospirose (pela urina), o tifo ou a peste (pela pulga do rato), e outras bacterioses e viroses por contato ou mordida do animal.
- Os ratos são portadores de ácaros?
Sim. Os ácaros também parasitam ratos.
- Os ratos são portadores de pulgas?
Sim e a espécie mais comum é a Xenopsylla cheopsis, conhecida como “pulga do rato”.
- Os perigos à saúde humana e de animais domésticos estão relacionados ao contato com a urina ou fezes dos ratos?
Tanto o contato direto com a urina quanto com as fezes representam grande perigo à saúde, assim como a mordida ou o contato com o animal, e a manipulação e a ingestão de alimentos que estejam contaminados por suas fezes, saliva, sangue ou urina.
- Os ratos podem matar uns aos outros?
Sim. O número de indivíduos em uma colônia tende a ser determinado pelos fatores alimento, água e abrigo. O comensalismo dos recém-nascidos, isto é, quando ratos adultos se alimentam de filhotes, é um dos mecanismos biológicos usados para a manutenção e controle do número de indivíduos dentro de uma colônia.
- Os ratos escalam paredes?
Sim. Espécies como o “rato de telhado” e o camundongo têm mais facilidade para escalar paredes que os demais.
- Os ratos nadam?
Alguns sim, como o “rato de esgoto” ou “ratazana” que tem membranas interdigitais em suas patas e uma pelagem que não se deixa embeber pela água. Isso facilita sua propulsão na água e lhes proporcionam mais habilidade para nadar.
- Os ratos podem destruir fiação elétrica?
Sim.
- Quais as principais medidas preventivas para evitar os ratos?
Acondicionamento adequado do lixo, por exemplo, em latões tampados ou, se embalado em sacos plásticos, devem ser mantidos longe do solo e em locais mais altos enquanto aguarda-se o dia da coleta. Jardins com gramados curtos, mato cortado, reparos de estruturas como canos quebrados, buracos nas paredes e calçadas e remoção de entulhos também são medidas altamente recomendadas para impedir que sirvam de abrigo para os ratos.
- Os ratos aparecem mais durante o dia ou durante a noite?
Como têm hábitos noturnos são mais vistos a noite, período em que suas atividades são mais intensas.
- Quais os perigos causados ao homem quando da utilização de “chumbinho”?
O chumbinho é uma associação do agrotóxico aldicarbe e outro organofosforado. Sua utilização pode causar intoxicação, tanto para o homem quanto para os animais domésticos, podendo levar ao óbito se não tratada a tempo.
- Quando não há indícios de rato num ambiente é aconselhável desratizar uma área por precaução?
Não, pois a desratização consiste na tomada de medidas que irão depender da situação das condições locais, da identificação do nível de infestação, bem como da espécie de roedor envolvida na questão.
- Quais são os tipos de desratização existentes?
A desratização pode ser realiza por meio de processos mecânicos e físicos (placas adesivas, ratoeiras, armadilhas, aparelhos de ultra-som) ou químicos, onde são utilizadas substâncias denominadas raticidas (em geral, anticoagulantes, que além de serem muito eficazes a baixo custo, possuem razoáveis margens de segurança no uso).
- Como se dá a morte de um rato após uma dedetização?
Os raticidas agem inibindo um dos fatores do mecanismo da coagulação sanguínea; fazendo com que o sangue do roedor não coagula mais e sua morte ocorra em decorrência de hemorragias internas iniciadas pelo próprio raticida. As ratoeiras e armadilhas têm sido inutilizadas devido a forma cruel de eliminação dos animais.
- Os ratos fogem ou atacam quando estão na presença do homem, de cachorro, gatos e outros animais domésticos?
Pelo seu comportamento de “desconfiança” os ratos, em geral, fogem na presença de outros animais e mesmo do homem à sua frente.
- De quanto em quanto tempo o rato defeca?
Não há um período bem delimitado, em especial, quando estão com o intestino repleto a cada 30 minutos, mas o intervalo pode ser bem menor quando sentem-se ameaçados.
- O acasalamento de ratos é somente pelas mesmas espécies?
Sim.
- É verdade que os ratos memorizam os locais por onde passam?
Sim. Eles constroem caminhos para ter fácil acesso à comida e ao abrigo e se familiarizam rapidamente a eles. O odor também é um componente auxiliar importante para promover o reconhecimento de seu abrigo e de indivíduos pertencentes à mesma colônia.
As Respostas acima foram fornecidas por:
Patricia J. Thyssen - Bióloga
• Pós-graduada em Entomologia
• Pesquisadora e Professora - UNICAMP
Telefone: 11+3832.2410 - Fax: 11+3831.2976 Rua Sales Júnior, 617 - Alto da Lapa - São Paulo - SP - CEP 05083-070 |
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