Baratas são insetos da ordem Blattodea que habitam nosso planeta há pelo menos 320 milhões de anos como indica o registro fóssil da espécie Paleoblatta douvillei. Desde sua origem, sobreviveram às mudanças geoclimáticas ao longo da história da Terra, e colonizaram o planeta como um grupo bem sucedido. Atualmente, existem ao redor de 4.000 espécies viventes, porém, somente 30 delas adaptaram-se ao meio ambiente urbano. Isso representa menos de 1% da diversidade global de baratas, ou seja, um número bem reduzido de espécies são potencialmente sinantrópicas (vivem próximo da moradia humana). Além disso, apenas 4 destas espécies podem ser vetores mecânicos de doenças, já que carregam junto ao corpo patógenos que prejudicam a saúde humana, principalmente o trato gastrointestinal.
De modo geral, as baratas sinantrópicas apresentam corpo oval, largo e achatado, cabeça curta e antenas longas e móveis, com função na comunicação, no reconhecimento do parceiro durante o cortejo de acasalamento e nas percepções de odores. Possuem elevada taxa reprodutiva, já que a fêmea é capaz de gerar dezenas de descendentes de uma única cópula com um macho. Esses insetos são, por excelência, onívoros e forrageiam à procura de comida e água durante à noite, devido a maior proteção contra predadores que a ausência de luz pode proporcionar. Esses insetos habitam o interior de fendas e rachaduras, onde encontram abrigo, calor, umidade e acúmulos de sujeira como restos de comida e entulho.
Entre as espécies sinantrópicas mais comuns de interesse médico estão Periplaneta americana, popularmente denominada de barata americana, barata vermelha, barata voadora ou barata de esgoto; a espécie Blatella germanica também conhecida como barata alemãzinha, “francesinha” ou paulistinha e a Blatta orientalis cujo nome popular é barata oriental. A barata americana é a maior espécie doméstica podendo chegar de 4 a 5 cm de comprimento. Ela apresenta uma coloração avermelhada com um bordo amarelo vivo no escudo protetor da cabeça e as asas, no macho, ultrapassam um pouco o comprimento do abdômen, enquanto que das fêmeas possuem o mesmo comprimento do corpo. Já a barata alemãzinha possui altíssima taxa reprodutiva sendo a espécie de maior freqüência nas cozinhas. É um inseto pequeno com comprimento aproximado de 1,5 cm e apresenta duas faixas longitudinais mais escuras no escudo protetor da cabeça. Por sua vez, a barata oriental, bastante comum no Brasil, caracteriza-se por não voar devido ao reduzido tamanho das suas asas. Têm coloração marrom escuro e os machos medem cerca de 3 a 4 cm de comprimento enquanto as fêmeas por volta de 2 a 3 cm. No Brasil, outras baratas domésticas também podem viver e reproduzir-se junto ao ambiente urbano, entretanto com menor freqüência ou em regiões específicas do País.
A presença dessas baratas no ambiente doméstico pode ser determinada pela observação do animal ou por meio das fezes, ovos ou pelo cheiro que exalam. Estima-se que num ambiente infestado com a espécie Blatella germanica (barata alemãzinha) existam aproximadamente 1.000 indivíduos no local. Por isso, a prevenção é a melhor maneira de evitar infestações.
As baratas sinantrópicas adaptaram-se bem ao meio ambiente urbano e convivem de modo desarmônico com a sociedade humana, já que, além do pavor que representam para algumas pessoas, podem carregar consigo patógenos prejudiciais à saúde. Entretanto, vale ressaltar que no seu ambiente natural esses insetos desempenham o papel ecológico de cicladores de nutrientes e de redução da madeira morta, aspectos fundamentais para manutenção da vida no planeta.
Outros Aspectos Biológicos
O sistema nervoso das baratas segue o padrão dos artrópodes com o gânglio cerebral sendo regionalizado e inervando partes determinadas dos olhos, antenas e peças bucais, bem como, glândulas salivares e musculatura. Corpos glandulares e certas células neurosecretoras regulam o crescimento e a metamorfose. Seu sistema respiratório é composto por traquéias, isto é, um complexo de túbulos que se abrem para o exterior através de pequenas aberturas na parede do corpo e que conduzem o oxigênio do ar diretamente às células. O sangue das baratas é denominado de hemolinfa, um fluído, no geral incolor, contendo células especiais para a coagulação, defesa contra microorganismos e substâncias estranhas, cicatrização e distribuição de nutrientes. Tanto as peças bucais como o trato digestivo têm adaptações à dieta alimentar das baratas e o armazenamento, a síntese e regulação de açúcares, gorduras e proteínas são realizadas por um tecido que recobre o tubo digestório.
Habitat das Baratas
As baratas podem viver no ambiente aquático, desértico, silvestre e doméstico. Em relação às espécies sinantrópicas (domésticas), elas costumam abrigar-se em frestas e locais quentes, úmidos e próximos a alimentos como redes de esgoto, porões, armários e gavetas, cozinha e dispensa de alimentos. São insetos residencialistas, já que geralmente saem forragear a procura de comida e retornam para o mesmo local. De modo geral, possuem hábitos noturnos e são lucífugas, ou seja, durante o dia vivem escondidas em recantos escuros.
Alimentação das Baratas
As baratas sinantrópicas, por excelência, são insetos onívoros, ou seja, se alimentam de substâncias animal, vegetal e matéria morta. Essas espécies vivem próximas a entulhos e acúmulos de sujeira onde procuram por alimentos, preferencialmente, açucarados.
Reprodução das Baratas
As baratas são insetos ovíparos ou ovovivíparos. Normalmente, seus ovos são depositados dentro de um estojo ou cápsula protetora denominada ooteca, também vulgarmente chamado de “ovo de barata”.
Blatella germânica (barata alemãzinha), por exemplo, põe em média 4 ootecas durante sua vida, cada uma contendo de 19 a 24 ovos. Essa espécie apresenta um desenvolvimento rápido que consequentemente levam a um aumento populacional explosivo. Além disso, Blatella germânica carrega sua ooteca durante todo período de gestação e, portanto, aumentam sua chance de sucesso reprodutivo já que não as deixam expostas à predação.
Já, a fêmea da Periplaneta americana (barata de esgoto) coloca ao redor de 51 ootecas num período de vida de 13 a 25 meses e cada ooteca contém em média 16 ovos. Geralmente, essa espécie deposita suas ootecas em ambientes protegidos, preferencialmente quentes e úmidos, como reentrâncias de paredes, batentes das portas, estantes, guarda-roupas, armários e gavetas. Periplaneta americana leva ao redor de 9 a 19 meses para completar seu desenvolvimento que vai desde ovo até adulto. Por sua vez, Blatta orientalis (barata oriental) coloca ao redor de 45 ootecas em apenas 3 meses de vida. Assim como Periplaneta americana, essa espécie também deposita suas ootecas em locais quente, úmidos e protegidos.
Prejuízos Causados à Sociedade
As baratas apresentam importância econômica, doméstica, médica, ecológica e na pesquisa científica. A importância agrícola é insignificante, já que grandes populações podem roer raízes de algumas plantas comprometendo a absorção de água. Além disso, podem também consumir alimentos estocados e, assim, inutilizar o produto para o comércio e alimentação.
Do ponto de vista doméstico, podem causar algum prejuízo ao roer roupas, papéis ou documentos, bem como, ao sujar o ambiente com seus excrementos e proporcionar odor aos utensílios domésticos, principalmente na cozinha e dispensa de alimentos.
A importância médica das baratas sinantrópicas certamente é um dos aspectos mais relevantes, já que existem algumas espécies que carregam microorganismos como vírus, bactérias, fungos e protozoários. As baratas ao deslocarem-se pela rede de esgoto e outros ambientes propícios ao desenvolvimento de patógenos trazem consigo microorganismos junto ao corpo que posteriormente, quando em contato com o alimento e utensílios, contamina-os. Por sua vez, o homem ao ingerir esse alimento contaminado, pode adquirir os patôgenos e adoecer. As baratas podem também roer a mucosa labial ou a extremidade da mão, principalmente de crianças durante o sono, devido à presença de resíduos açucarados que servem de alimento. Isso pode causar irritação e formação de ferida no local denominada “herpes blattae” que requer cuidados médicos. As fezes podem ser inaladas e causar distúrbios no trato respiratório ou ainda, reações alérgicas. Finalmente, esses insetos são potencialmente hospedeiros intermediários de vermes que infectam alguns mamíferos e eventualmente o homem.
No ambiente natural, as baratas desempenham os papeis ecológicos de cicladores de nutrientes e de decompositores de madeira morta. No primeiro caso, suas fezes, ricas em compostos de nitrogênio fertilizam o solo. Já, no segundo caso, reduzem a madeira morta do solo, dispondo-a para os microorganismos que produzem húmus. Desse modo, as baratas contribuem para a manutenção da vida no planeta.
Já o interesse científico pelas baratas decorre de seu uso como modelo de estudos de anatomia e fisiologia de insetos e há pesquisadores que criam esses animais para estudos sobre os mecanismos de resistência a inseticidas, bem como, para servirem de alimento para vários outros animais de laboratório.
Mecanismos de Controle
Antes de se tomar qualquer medida de controle, o monitoramento do local é importante para verificar o nível de infestação, bem como foco e o número de espécies existentes. A inspeção visual e o uso de armadilhas são bons métodos de averiguação e a depender dessa estimativa decide-se a estratégia de controle e a necessidade ou não de intervenção química.
O mecanismo de controle básico de baratas consiste na manutenção higiênica do ambiente, pois, é o acúmulo de resíduos alimentares que determina o aparecimento do inseto. Além da higienização freqüente, aconselha-se também a vedação de frestas e outros ambientes favoráveis ao estabelecimento desses animais.
Nas infestações o manejo integrado é o mecanismo de controle mais indicado. Além de economicamente mais viável, já que requer menor investimento com inseticidas, ele reduz também a concentração de resíduos químicos no ambiente.
O manejo integrado consiste no emprego concomitante de pesticidas, geralmente organofosforados, e produtos biológicos. Esses inseticidas devem ser usados cuidadosamente para evitar a contaminação do meio ambiente, principalmente da água. Sendo assim, aconselha-se:
• Iscas, pó seco e inseticidas microencapsulados podem ser aplicados em locais fechados;
• Inseticidas de pulverização líquida devem ser administrados em áreas que sofrem limpezas úmidas;
• Substâncias residuais devem ser aplicadas apenas em áreas não irrigadas, pois assim os produtos permanecem por
mais tempo no local e não precisam de reaplicações freqüentes.
No controle biológico o mais comum é empregar inimigos naturais, como aranhas, escorpiões, ácaros, besouros, sapos e rãs, pequenos répteis, aves e pequenos roedores. Esses animais alimentam-se das baratas adultas ou de suas ninfas, porém para o ambiente doméstico criar esses animais é inviável. Atualmente, o fungo Beauveria brongniartii é alvo de intensos estudos, uma vez que pode ser um método viável e eficaz no controle biológico das baratas.
Dicas
Para prevenir infestações de baratas é preciso evitar o acúmulo de sujeira e resíduos alimentares pela casa. Assim, é aconselhável sempre embalar a comida e manter limpos os cômodos, principalmente a cozinha e a dispensa de alimento. Isso reduz a presença de fezes e fragmentos da exúvias (mudas), que podem causar reações alérgicas se inaladas. Além disso, alimentos expostos, embalagens furadas e migalhas espalhadas pelo chão podem atrair baratas, bem como outros animais sinantrópicos.
As baratas não são hospedeiras de microorganismos patogênicos. Na verdade, elas são vetores mecânicos, ou seja, carregam na superfície do corpo bactérias, vírus e protozoários que potencialmente podem causar doenças ao homem. Portanto, deve-se limpar com água e sabão os objetos que as baratas entraram em contato. Para os alimentos, o aconselhável é descartá-los, já que entre algumas bactérias que as baratas transportam está a espécie Escherichia coli que causam diarréias.
Finalmente, é importante não abusar do uso de pesticidas. O ideal é um controle integrado, onde são utilizados produtos químicos associados a produtos naturais. O uso abusivo de inseticidas pode selecionar populações resistentes de baratas e, assim, deixarem de ser eficientes no controle da infestação.
Curiosidades
- Os órgãos pulsáteis das baratas que levam a hemolinfa aos apêndices e asas podem continuar a pulsar por 30 horas
após decapitação.
- As baratas podem provar venenos com seus palpos, evitando digeri-los e contaminar-se.
- À mínima percepção de perigo, são capazes de iniciar uma fuga em 0,054 segundos.
- Passam aproximadamente 75% do seu tempo em repouso.
- As baratas fósseis do período Carbonífero são tão abundantes que este período é conhecido como “Idade das
Baratas”.
- As baratas têm tamanhos entre 2 a 6,5 mm, as maiores atingindo 80 mm.
- Algumas espécies fazem a polinização de certas plantas.
- Os insetos denominados popularmente de “baratas d’água” são na verdade percevejos.
- Nas rochas calcárias do Ceará (112 milhões de anos atrás) foram encontrados fósseis de baratas
extraordinariamente preservados contemporâneos dos dinossauros.
Barata - Perguntas e respostas
Conheça as principais perguntas e respostas (FAQ) referente as baratas.
- Quais os tipos de barata que encontramos no lar?
As espécies que freqüentemente encontramos dentro das residências são a Periplaneta americana (ou barata americana, de esgoto, cascuda ou voadora), a Blattella germanica (ou barata alemã, francesinha ou baratinha da cozinha), a Blatta orientalis (ou barata oriental) e a Periplaneta autralasiae (barata australiana).
- É verdade que se virarmos uma barata de cabeça para baixo ela morre?
Não. Às vezes pode fingir-se de morta para fugir de seus predadores ou caçadores.
- Porque quando a barata morre ela está virada de cabeça para baixo?
As aberturas dos órgãos respiratórios da barata se encontram na parte ventral do abdômen. Ela vira-se de barriga para cima na tentativa de respirar melhor e se recuperar da ação do veneno.
- Uma dedetização feita por empresas especializadas é melhor do que o uso de produtos encontrados em mercados?
Caso a presença de baratas seja apenas ocasional, os produtos vendidos em mercados ou varejos apresentam bom resultados. No entanto, em caso de infestações maciças, é recomendada a atuação de uma empresa especializada, a qual poderá realizar um controle integrado de insetos conhecidos como “pragas urbanas”, tomando medidas mais adequadas à gravidade da situação.
- As baratas criam resistência com o uso de inseticidas?
As baratas não criam resistência aos inseticidas, mas o uso destes pode ajudar a selecionar entre populações mais e menos sensíveis a estes produtos. As espécies sobreviventes darão origem a linhagens mais resistentes, condição determinada por características genéticas.
- As baratas podem transmitir ou causar doenças ao homem ou aos animais domésticos?
Sim, por freqüentarem locais sujos ou que contenham dejetos, elas podem carregar, sobre o seu corpo diversos agentes nocivos tanto para o homem quanto para outros animais, tais como bactérias, vírus ou parasitas. Além disso, as baratas podem ainda causar reações alérgicas em algumas pessoas.
- Existe outro meio de matar baratas sem o uso de inseticidas?
Elas podem ser mortas com o uso de armadilhas de diversos tipos. Um exemplo é por uso de iscas com gel que contém uma substância atrativa e outra tóxica. Ao serem ingeridas pela barata provocam a sua morte.
- Quais os cuidados que devemos ter para não sermos surpreendidos por uma infestação de barata?
A melhor maneira de evitar infestações é manter limpos, tanto por dentro como por fora, os domicílios ou estabelecimentos comerciais, evitar deixar restos de alimento a mostra e não acumular lixo. Ambientes quentes, úmidos, escuros, sem ventilação e com muitas frestas podem servir como esconderijo ideal para estes insetos.
- As baratas preferem que temperatura?
A maioria das espécies vivem bem sob temperaturas em torno de 30ºC, exceto Blatta orientalis, que são encontradas em locais onde a temperatura ambiente não ultrapasse os 25ºC. A Periplaneta americana é a mais resistente ao calor, sobrevivendo por certo tempo em locais que ultrapassem os 35ºC, tais como motores elétricos.
- Além do lixo, de que mais elas se alimentam?
A barata se alimenta de qualquer tipo de matéria orgânica, incluindo restos de comida, excretas, papéis e fungos.
- A barata “mastiga”? Como é a sua digestão?
A barata não mastiga: ao encontrar um alimento secretam enzimas digestivas que dão início à “digestão” deste recurso alimentar. A “pasta” resultante é engolida e vai percorrer o seu trato digestório para que sejam aproveitados os nutrientes ali presentes.
- De quanto em quanto tempo elas soltam fezes?
Expelem as fezes sempre que se alimentam ou logo após o término da refeição.
- A barata também necessita de água?
Sim, assim como qualquer outro organismo vivo, sua sobrevivência é impossível sem a ingestão de água. No entanto, as espécies domésticas podem ser mais resistentes à escassez de água.
- A barata é um perigo em hospitais?
Sim, a presença de baratas em hospitais é preocupante, devido a sua enorme capacidade de veicular agentes causadores de doenças.
- Existe algum controle preventivo quanto às baratas?
O controle preventivo consiste em tornar o ambiente em que vivemos “desfavorável” à sua sobrevivência como evitar restos de quaisquer materiais, por exemplo, que lhes sirva de alimento, e manter o ambiente limpo e ventilado.
- Quando as baratas surgiram no planeta Terra?
Os registros fósseis indicam que as baratas devam ter surgido no período Carbonífero, há 320 milhões de anos atrás.
- Como as baratas domésticas se reproduzem?
A fêmea libera no ambiente os “feromônios” sexuais (moléculas que se traduzem em um “odor” que atraem os machos). O macho faz a corte e produz substâncias “afrodisíacas”. Desse modo, a fêmea é atraída e a cópula é iniciada pelo macho.
- Por que as baratas se proliferam tão facilmente no ambiente doméstico?
Porque são rápidas, muito férteis e têm hábitos noturnos. Se não a vimos, ficam “livres” para encontrar alimento fácil e se proliferarem sem grandes obstáculos.
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